SÓCIO - LEI 8397 92 - ART 300 CPC - CARÊNCIA DE AÇÃO - AUSÊNCIA DE
LEGITIMIDADE PASSIVA - SÓCIO QUE NÃO
PARTICIPA DA ATIVIDADE FINANCEIRA DA EMPRESA - IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO
PEDIDO - BEM DE FAMÍLIA -
IMPENHORABILIDADE
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA .......ª VARA CÍVEL DA COMARCA
DE ........, ESTADO DE ........
Proc. n.º ......
MEDIDA CAUTELAR FISCAL
Reqte.: FAZENDA PÚBLICA
Reqdos.: ......... e outros
Esc. ....º Cível e ...
.........., devidamente qualificado, por seu advogado in fine assinado (mandato
nos autos), com o respeito e acatamento devidos vem perante Vossa
Excelência, nos termos do artigo 8º da Lei nº 8.397/92 c/c artigos 300 e
seguintes do Estatuto Processual Civil, apresentar sua
CONTESTAÇÃO
aos termos da MEDIDA CAUTELAR FISCAL acima epigrafada, aduzindo, pois, as
relevantes motivações de seu pleito:
- Necessária, antes de se verberar a medida extrema intentada pela Requerente, a
exposição de preliminares que, data venia, levarão à exclusão do
contestante da presente lide. Ei-las:
PRELIMINARMENTE
CARÊNCIA DE AÇÃO: Diante do que restará exposto e corroborado pela documentação
que ora se faz juntar, de se ver que a Requerente é
CARECEDORA DE AÇÃO no que concerne ao contestante por falta de legitimatio ad
causam passiva.
Entende o douto Arruda Alvim que:
"estará legitimado o autor quando for o possível titular do direito pretendido,
ao passo que a legitimidade do réu decorre do fato de ser ele a pessoa
indicada, em sendo procedente a ação, a suportar os efeitos oriundos da sentença
(in Arruda Alvim, Cód.Proc.Civil Comentado, 1ª ed., 1975, v.I, p.319)
- No caso vertente, Excelência, está-se diante de uma típica situação de
CARÊNCIA DE AÇÃO, uma vez que o contestante não deve figurar no pólo
passivo desta cautelar, pelos fatos adiante alinhados:
a)- a despeito de figurar no contrato social da empresa como um de seus sócios,
a atuação do contestante restringiu-se tão-somente a atividades
meramente técnicas, na condição de engenheiro ........, com absoluta isenção no
tocante ao setor financeiro, que é o encarregado dos pagamentos
tributários e contribuições afins.
a-1- Partindo-se desta primeira premissa, dessume-se, de imediato, que a medida,
in casu, é contra legem. Veja-se :
Lei nº 8.397, DE 6 DE JANEIRO DE 1992
Art. 4º - A decretação da medida cautelar fiscal produzirá, de imediato, a
indisponibilidade dos bens do requerido, até o limite da satisfação da
obrigação.
§ 1º - Na hipótese de pessoa jurídica, a indisponibilidade recairá somente sobre
os bens do ativo permanente, podendo, ainda, ser estendida aos bens do
acionista controlador e aos do que em razão do contrato social ou estatuto
tenham poderes para fazer a empresa cumprir suas obrigações fiscais, ao tempo:
a)- ... b)- ...
§ 2º - A indisponibilidade patrimonial poderá ser estendida em relação aos bens
adquiridos a qualquer título, do requerido ou daqueles que tenham estado
na função de administrador (§ 1º), desde que seja capaz de frustrar a pretensão
da Fazenda Pública.
- De se ver que a medida direcionou-se, também, a quem não tinha e não tem o
menor vínculo na administração financeira da empresa. Primeiro, porque
não foi e nem é acionista controlador. Segundo, porque pelos termos do contrato
social não tinha e não tem poderes para fazer a empresa cumprir suas
obrigações fiscais. Terceiro, pelo fato de que jamais o contestante exerceu
funções de administrador.
-
b)- não bastassem tais fatos, desde o dia ..... de ........ de ......... o
contestante não mais faz parte da diretoria (de Apoio .........) da
............, uma vez que
demitiu-se na referida data, consoante "ATA DA REUNIÃO DA DIRETORIA REALIZADA EM
..../..../..... (documento ....).
b-1- Sob a égide dessa outra premissa, pela mesma forma, não encontra guarida a
Requerente para a pretensão deduzida em desfavor do Contestante. O
mesmo não encontra-se incurso nas hipóteses elencadas pela Lei n.º 8.397/92.
c)- ainda, em derrocando de vez a aspiração sub judice da Fazenda Pública,
mister a lembrança de que o Contestante não mais faz parte da sociedade, em
razão de "AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL C/C APURAÇÃO DE HAVERES", intentada em data
de ..... de ........ de ......., perante o Juízo da
Vara Cível da Comarca de ........., que foi julgada procedente em data de ......
de ........ de .........., em primeira Instância, confirmada pelo Egrégio
Tribunal
de Justiça do Estado de ........, em data de ..... de ......... de ......... e,
finalmente, corroborada pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA em data de ....
de ........ de ........ . (documentos .....).
- Infere-se desses dados, Excelência, que o contestante, por todos os motivos
ora expendidos, há que ser excluído do pólo passivo do presente feito, por
absoluta ilegitimidade ad causam passiva.
- Doutro lado, transposta essa preliminar, outra, de relevância assoberbada,
dado seu caráter absoluto, se nos apresenta. É a prejudicial que reside na
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO inserto na petição de fls. ... Vejamo-la:
"Por possibilidade jurídica do pedido entende-se a admissibilidade da pretensão
perante o ordenamento jurídico, ou seja, previsão ou ausência de vedação,
no direito vigente, do que se postula na causa" (STJ-RT 652/183, maioria).
- No caso em questão, pretende a Fazenda Pública tornar indisponível, via
cautelar específica, O ÚNICO PATRIMÔNIO DO REQUERIDO.
- Ora, tal pretensão afronta flagrantemente o disposto na Lei nº 8.009, DE 29 DE
MARÇO DE 1990, que dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de
família:
Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é
impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial,
FISCAL, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos
pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas
hipóteses previstas nesta Lei.
...
Art. 3º. A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil,
FISCAL, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza ...
- Se o bem objeto do pedido é, por expressa determinação legal, impenhorável,
por defluência lógica NÃO PODE SER OBJETO DE QUAISQUER
CAUTELARES CONSTRITIVAS.
- Infere-se, daí, que o pedido é juridicamente impossível, uma vez que é
inadmissível tal pretensão perante o ordenamento jurídico.
- Desnecessária a lembrança de que o bem, objeto da constrição determinada por
Vossa Excelência, é o único patrimônio do Requerido, onde reside com
sua família, conforme atestam os documentos de nºs .......
- Assim, vez que desprovida de razões a contestada, deverá o Ilustre Magistrado,
em acolhendo as preliminares aqui aventadas, julgar extinto o feito, em
relação ao ora contestante, nos termos do artigo 267,VI do CPC, com a condenação
da autora aos consectários legais da sucumbência, não olvidando-se
da verba honorária, em valores a serem arbitrados por Vossa Excelência.
PERDA DA EFICÁCIA DA MEDIDA CAUTELAR: Em atenção ao elevado critério de Vossa
Excelência, não é demais lembrar que, se transpostas as
preliminares exaradas, outra barreira, de caráter processual, antepõe-se à
pretensão da Fazenda Pública.
- Compulsando os autos, o magistrado haverá de inferir que a medida perdeu sua
eficácia , nos termos do artigo 13, II, da Lei n.º 8.397/92 c/c artigo 808,
II, do Código de Processo Civil.
- A liminar foi concedida em data de .... de ....... de ........, porém, tão-só
na data de ..... de ....... de ....... foi extraído o respectivo Mandado para o
devido
cumprimento.
- Forçoso reconhecer que, mais uma vez, afrontadas foram as disposições legais,
o que leva o feito, também dessa forma, à extinção sem o julgamento do
mérito.
NO MÉRITO
- Melhor sorte não se reserva à autora no que concerne ao mérito da presente
lide, uma vez que, consoante sobejamente demonstrado pela documentação
acostada às fls. ......, cessou a razão de ser da medida.
- Como restou patenteado, a causa determinante da lide não mais existe.
- Por esta forma, frente a todas as ponderações, é a presente para requerer a
Vossa Excelência que, em acolhendo a presente, se digne em JULGAR
TOTALMENTE IMPROCEDENTE a medida cautelar ora verberada.
- Em sendo necessário, provará o alegado por todos os meios de prova em direito
admitidas, o que desde já fica requerido.
N. Termos,
P. Deferimento.
........., ...... de ...... de ......
................
Advogado